Todo mundo tem em casa um objeto importante, de valor afetivo, que lembre alguém que já se foi.
Na casa da Aninha é uma cadeira velha de três pernas, que foi da sua avó paterna.
Ninguém pode chegar perto dela. Não pode tocar, não pode mudar de lugar e nem limpar. O “seu” Osvaldo não deixa.
A dona Lurdes, esposa dele, não vê a hora de se livrar “dessa velharia”, como ela diz.
A Aninha é escoteira e o seu grupo é bem legal. Eles se reúnem todos os sábados e o único pai que não comparece é o seu, porque ele é segurança no shopping e só tem folga às segundas-feiras.
Como todos os dias de reunião, o pai do Igor passa bem cedo de carro para dar carona para ela.
Na volta ele a deixa e vai rapidinho para casa, lavar o carro. Ele é uma pessoa muito zelosa com as coisas.
– Eu acho que o carro dele é mais limpo que o meu quarto – confidenciou um dia para sua mãe.
Só que ao parar o carro ele diz que a temperatura do motor está muito alta e que ele precisaria de um pouco de água para completar o reservatório.
Então descem os três, Aninha, Igor e seu pai, para pegar a água.
Aproveitando que não tem ninguém em casa, a menina convida o amiguinho para ver o seu quadro de medalhas no quarto.
– Eu posso ir, pai? – pergunta o garoto.
– Claro filho, enquanto isso eu dou uma olhada no carro – responde o pai.
Como as crianças estavam demorando, o pai de Igor entra para chamá-los e vê a cadeira velha no canto da sala, como um troféu, mas toda empoeirada.
Ao perceber que falta uma perna, balança a cabeça e pensa que o amigo Osvaldo não tem tempo de arrumá-la, pois trabalha muito.
Ele não se faz de rogado. Pega a cadeira e a coloca no porta malas do carro, bem no momento em que seu filho aparece e eles vão embora.
A noite chega e todos estão em volta da mesa, prontos para comer uma pizza meio muçarela, meio calabresa, quando o senhor Osvaldo arregala os olhos, empalidece, estica as mãos para frente e diz com voz sofrida:
– A cadeira. Minha cadeira. Onde está a minha cadeira?
Todos se viram rapidamente e constatam que a cadeira sumiu!
Mãe e filha se olham, nervosas e não ousam emitir um som sequer.
O pai levanta e vai até onde a cadeira deveria estar e fica falando sozinho.
– Como? Quando? Quem? – repete sem parar, até que se volta para a esposa e pergunta, bravo:
– Lurdes, Lurdes! O que você fez com a cadeira da mamãe?
– Eu, querido? Eu passei o dia todo fora! – responde a mulher.
– Está certo que eu nunca gostei dessa cadeira velha, mas jamais mexeria nela sem falar com você antes.
O pai, inconformado, balança o corpo de um lado para o outro, até que olha para a filha e pergunta, desconfiado:
– Onde você estava hoje à tarde, mocinha?
– No meu quarto pai – responde apavorada a menina.
– Hum… E não aconteceu nada de estranho? – pergunta o pai com ares de detetive.
– Não… Nós chegamos e subimos para o meu quarto…
Osvaldo grita, assustando mãe e filha:
– Aháá! Nós? Quem estava com você? – interpela o pai.
– O Igor. Eu convidei ele para ver as minhas medalhas.
– Sei – diz o pai, esticando as letras, como se tivesse encontrado o culpado pelo sumiço da sua cadeira.
– E, por acaso, o Alberto estava com vocês? – interroga o pai.
– Estava pai. Enquanto nós estávamos no meu quarto, ele estava colocando água no carro dele.
– Eu sabia! – Osvaldo sai dando pulinhos e resmungando.
Passados alguns segundos, completa:
– Ele, sempre ele. O senhor certinho… ah, mas se ele jogou fora a minha cadeira…
– Liga para ele, querido – sugere dona Lurdes.
Nem precisou falar duas vezes.
– Alberto? Vou direto ao ponto: onde está? (pausa) Sim, claro que estou falando da cadeira…
– Nãoooo! Alberto, você não fez isso? Alberto… Alberto… – diz enquanto tateia o sofá em busca de apoio.
Respira fundo, enquanto ouvimos a voz do pai do Igor ao fundo.
– Eu estou indo para ai agora, Alberto – diz lentamente e ameaçadoramente o pai de Aninha, quase que soletrando a frase.
O pai desliga o telefone, pega as chaves do carro e vão todos para a casa de Alberto.
No caminho ele vai falando sozinho, imitando o amigo, em tom de deboche e com voz fininha:
– Eu arrumei a sua cadeira, Osvaldo. Ela estava tão feia. Agora você vai poder usá-la, pois ela está com as quatro pernas…
Ao chegar, Osvaldo pula as convenções e vai logo perguntando “onde está”.
– Aqui. Não está reconhecendo? – responde o “marceneiro” Alberto.
Osvaldo está de boca aberta. Agora ela tem todas as pernas, está limpa e envernizada.
Ele anda em torno dela, como se não acreditasse que era a sua cadeira querida.
– Alberto… olha o que você fez com a minha cadeira – diz, elevando a voz.
Aninha quer correr. Ela prevê o início da Terceira Guerra Mundial!
– Alberto… ah, Alberto – choraminga Osvaldo.
– Ela está linda! – completa.
Alberto enche o peito, orgulhoso.
Os dois se abraçam e Aninha pode então relaxar.
Tudo acabou bem.

ATENÇÃO: você está acessando nosso site usando um celular ou tablet, por esse motivo não consegue ver os nossos Dedoches!
Cada estória vem com um par de dedoches para você imprimir, recortar e fazer com que a brincadeira seja muito mais divertida!
Acesse agora através de um computador ou notebook para conhecer os Dedoches!

Ei, que tal tornar a estória mais interessante, imprimindo e usando os nossos dedoches?

 

Ícone Dedoche
Ícone Imprimir Dedoches
Ícone Dedoche