Rodrigo adora visitar a tia Nair.
Na verdade ela é sua tia-avó por parte de pai.
Esse ano enquanto ele completava oito anos de idade, a senhora estava fazendo oitenta.
– A casa dela tem um cheiro estranho. Acho que é por causa do monte de coisas velhas que ela tem – explica para os amiguinhos durante um lanche em sua casa.
A mãe, que está servindo os meninos, corrige:
– São antiguidades.
– Vocês precisam ver… Da próxima vez que eu for lá, vou fotografar tudo e mando pelo WhatsApp!
Para o menino, a casa da tia é como um museu.
– Vocês não vão acreditar! Ela tem uma tv que não é colorida! Ah, tem também um ferro de passar roupas que não tem tomada! Ela disse que quando era pequena, colocava carvão dentro dele…
A cada objeto que ia descrevendo, os amigos diziam em coro:
– Oh!
As semanas se passam e o telefone toca.
É a tia Nair dizendo que vai fazer o bolo de canela que Rodrigo gosta. A mãe do menino combina então uma visitinha para o café da tarde.
Nosso amiguinho está ansioso. Até completou a carga do celular, pois resolveu fazer alguns vídeos das coisas diferentes que a tia tem em casa.
Mal chegam, dá um beijinho na velha senhora e começa a andar pela casa para registrar tudo para os amigos.
E lá vai ele narrando tudo o que vê pela frente:
– Isso aqui é uma vitrola. Ela serve para tocar discos de vinil, igual ao dos DJ’s… Cara, olha que irado isso! Esse ventilador parece uma nave espacial!
De repente ele avista algo novo, que chama a sua atenção.
Colocando o celular de lado ele olha, toca e tenta entender o que é aquele aparelho que parece um telefone.
– É um telefone! – surpreende-se ao tirar o fone do gancho e ver que ele está com sinal de linha.
– Isso não são teclas! Não dá para apertar! – pensa, enquanto mexe no aparelho.
Rodrigo não percebe, mas a tia se aproxima e resolve a questão.
– Isso é um telefone de disco… Quer ver como funciona?
– Claro! – responde o menino curioso.
Dona Nair então toma o fone na mão e começa a girar o disco do telefone.
– Você tem que enfiar o dedo no buraquinho do número que deseja e girar até o final aqui.
– Que barulho estranho! – diz o menino admirado.
Examinando mais detalhadamente o aparelho, pergunta à tia sobre a tecla de rediscagem.
Ela ri e diz que se precisar discar o número novamente, vai ter que girar o disco, número por número.
– Tá brincando tia! – diz sem acreditar.
Olhando fixamente para o telefone, continua a sessão de perguntas:
– Vai me dizer que também não tem agenda?
– Ah, agenda eu tenho sim – diz dona Nair, puxando a gaveta e pegando um caderninho onde anota os números dos telefones das pessoas.
Rindo o menino explica:
– Não essa agenda… Uma agenda que fica dentro do telefone!
Fazendo cara de desapontada a senhora balança a cabeça negativamente.
O sentimento de Rodrigo passa de surpresa para dó da pobre tia.
– Mas por que a senhora não compra um telefone mais moderno, sem fio? Assim vai poder andar com ele pela casa…
– Eu já tive um telefone desses. Vivia perdendo ele pela casa… O pior era que sempre esquecia de colocá-lo no lugar e a bateria acabava. Então resolvi colocar esse mesmo…
Inconformado, o menino começa enumerar as vantagens de um telefone mais moderno, mas não consegue convencer a tia.
– Vamos comer um pedaço de bolo? Acabei de fazer o chocolate quente que você gosta – convida dona Nair.
– Ôba, vamos sim! Mas antes posso usar o seu telefone para ligar para um amigo?
– Claro que sim! Mas não demore… – diz a velha senhora indo para a cozinha.
Rodrigo então ajeita o celular na mesa e começa a gravar.
– Pessoal, sabem o que é isso? É um telefone!
E como se estivesse conversando com os amigos, continua:
– Sério! Eu vou provar – diz, tirando o fone do gancho e discando o número do único amigo que ele lembra, afinal de contas seu telefone tem agenda.
Minutos depois de enviar o vídeo para os amigos, seu telefone não para de receber mensagens que ele lê para a tia, que ri de tudo o que ouve.
No final, antes de ir, ela faz questão que o menino faça um vídeo com ela mostrando como o seu relógio cuco funciona.
Nem preciso dizer que foi um sucesso!
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